Introdução
Na noite de 28 de novembro de 2016, o voo charter LaMia 2933 caiu na região montanhosa de La Unión, próximo a Medellín, na Colômbia. A aeronave transportava a equipe da Chapecoense, que disputaria a primeira partida da final da Copa Sul-Americana 2016, contra o Atlético Nacional.
O acidente matou 71 das 77 pessoas a bordo, entre jogadores, comissão técnica, dirigentes, jornalistas e tripulantes. Apenas seis sobreviveram. A tragédia teve repercussão mundial e gerou uma comoção sem precedentes no mundo esportivo.
✈️ Informações da Aeronave e da Operação
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Tipo de aeronave: BAe Avro RJ85 (fabricado em 1999)
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Matrícula: CP-2933 (Bolívia)
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Operadora: LaMia – companhia boliviana especializada em voos charter
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Tripulantes: 9 (todos bolivianos, incluindo o piloto e co-piloto, ambos ex-militares)
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Passageiros: 68 passageiros, entre eles 21 jogadores da Chapecoense
🛫 Plano de Voo: Uma Irregularidade Crítica
O plano de voo apresentado previa um tempo estimado de voo de 4h22min, exatamente o mesmo da autonomia máxima da aeronave, com nenhuma margem de reserva de combustível — algo estritamente proibido pelas normas da OACI/ICAO e regulamentos nacionais (RBACs e suas versões equivalentes na Bolívia e Colômbia).
🔴 Não havia combustível extra para alternado, nem para espera ou contingências (como tráfego ou meteorologia adversa).
Além disso:
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O piloto não solicitou escala técnica para reabastecimento em Bogotá ou Letícia, apesar de saber do limite crítico de combustível.
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O plano de voo foi aceito e aprovado por autoridades bolivianas — o que evidencia falhas graves na supervisão da autoridade aeronáutica da Bolívia.
🕔 Linha do Tempo da Tragédia
⏱️ 18h18 (hora local): Decolagem de Santa Cruz de la Sierra, Bolívia
O voo parte rumo a Medellín sem escala. O combustível a bordo era calculado no limite da autonomia.
⏱️ 21h30: A aeronave entra no espaço aéreo colombiano
Já em aproximação para Medellín, outros voos (como um da VivaColombia) solicitam prioridade devido a problemas técnicos.
⏱️ 21h49: Primeiros indícios de falha elétrica
A tripulação informa falha elétrica parcial. O controlador de tráfego aéreo orienta a manter espera.
⏱️ 21h52: O piloto declara “emergência total”
Finalmente, o piloto Miguel Quiroga declara emergência por “pane elétrica total” e falta de combustível. A aeronave já havia perdido os quatro motores por flameout (apagamento por falta de combustível).
⏱️ 21h55: Queda da aeronave
A aeronave colide com a encosta de um morro a aproximadamente 17 km do destino. O impacto foi relativamente leve, mas como não havia energia elétrica nem hidráulica, o trem de pouso estava recolhido e os sistemas inoperantes. A fuselagem se partiu em várias seções.
🧾 Causas Oficiais do Acidente
Segundo o relatório final da Aerocivil da Colômbia, os fatores determinantes do acidente foram:
1. Exaustão de combustível
A principal causa. A aeronave não tinha combustível suficiente para completar o voo com segurança. O plano violava o RBAC 121 e a norma OACI sobre reservas obrigatórias.
2. Falta de ações corretivas pela companhia
A LaMia operava com práticas irregulares, ignorando procedimentos de segurança. Já haviam ocorrido voos anteriores em situações semelhantes, também sem combustível extra.
3. Decisão operacional do comandante
O comandante era sócio da empresa, o que pode ter influenciado sua decisão de não alternar o voo. Mesmo sabendo da situação, postergou a declaração de emergência, comprometendo as chances de salvamento.
4. Falta de fiscalização da autoridade aeronáutica boliviana
A aprovação do plano de voo irregular expôs falhas sistemáticas da DGAC-Bolívia.
👤 Fatores Humanos e Pressões Operacionais
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A tripulação optou por não declarar emergência até o último momento, possivelmente por pressão de imagem e reputação da empresa.
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O voo havia sido contratado diretamente com a LaMia, e o comandante Quiroga era coproprietário da companhia.
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A decisão de voar sem escala não foi tomada por acaso, mas fazia parte de um padrão operacional inseguro.
⚖️ Repercussões Legais e Administrativas
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A LaMia teve sua licença cassada, e seus bens foram bloqueados.
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Autoridades bolivianas sofreram investigações internas.
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A justiça colombiana e brasileira iniciaram processos de responsabilização.
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Famílias das vítimas moveram ações contra a companhia, a seguradora e o Estado boliviano.
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A ANAC passou a restringir autorizações para voos fretados por empresas estrangeiras.
🌎 Comoção Mundial
O acidente gerou uma comoção internacional sem precedentes:
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O Atlético Nacional solicitou à CONMEBOL que a Chapecoense fosse declarada campeã da Copa Sul-Americana de 2016 — um gesto que foi aceito.
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Clubes e federações ao redor do mundo fizeram homenagens.
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A tragédia tornou-se símbolo de solidariedade, superação e memória.
🧠 Lições para a Aviação
O caso LaMia 2933 é um exemplo clássico de acidente evitável e de como decisões gerenciais e operacionais podem afetar diretamente a segurança do voo. Ele reforça a importância da cultura de segurança, da autonomia técnica dos pilotos, do respeito aos limites operacionais e da responsabilidade das autoridades reguladoras.
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