sábado, 12 de fevereiro de 2022

PRIVATIZAÇÃO DO AEROPORTO SANTOS DUMONT-RJ

 

Inaugurado em Novembro de 1936 por Getulio Vargas, numa terminologia moderna, denominado equipamento urbano. Cravado às margens da Baia de Guanabara próximo ao Centro  do Rio de Janeiro. A questão localização sempre foi o ponto forte do aeroporto o que incentivou seu crescimento e modernização que aconteceram para atender o aumento da demanda constante em função do desenvolvimento da aviação. Porém seu circuito de tráfego aéreo nas cabeceiras 02 e 20 passa pela vertical de bairros hoje  adensados populacionalmente como Glória, Flamengo, Botafogo, Urca, Laranjeiras, Santa Teresa e Niteroi, bairros que se desenvolveram em torno do aeroporto dividindo o espaço com as Aeronaves cada vez mais frequentes. Acontece que a medida que a aviação se desenvolve a cidade se desenvolve também até um ponto que a saúde e o bem estar das pessoas, a fauna e a flora, se veem afetados nesse  entorno devido  ao ruido, gases emitidos e possíveis vazamentos de combustíveis, óleos lubrificantes e hidráulicos dispersados por aeronaves que por ventura se acidentem na Baia de Guanabara.

Concedendo uma entrevista a uma rede importante de TV um comentarista mais afoito estava impressionado com a demora em se tirar um jato de pequeno porte da Baia de Guanabara, não levando em conta que retirando a aeronave rapidamente d’agua um possível vazamento de óleo ou querosene poderia causar um dano ambiental incalculável a fauna e a flora presentes. E é esse o ponto, a velocidade da vida urbana atual não permite aos seus “atores em diversos cenários diferentes – econômico, ambiental...” se unam e dispensem uma atenção maior à proteção ao meio ambiente e as consequências de atitudes impensadas que podem afetar a qualidade de vida. Muitas frentes que hoje se encontram polarizadas precisam se UNIR a um objetivo comum.

A ICAO (Organização Internacional de Aviação Civil) em um de seus anexos, mais precisamente o anexo XVI- proteção ao meio ambiente, classifica todos os tipos de intervenções e consequentemente ameaças  ao meio ambiente produzidos pela atividade aérea, sugerindo que países membros  em suas legislações específicas, preservem, fiscalizem e desenvolvam políticas de proteção  ambiental, em função do ruído aeronáutico e emissão de gases poluentes. Ora, se um orgão como a ONU através da ICAO se preocupa ao ponto de emitir um documento específico sobre o tema, isso significa que em países onde a aviação é muito presente, como é o caso do Brasil que detém a posição de segunda maior aviação executiva do mundo e ainda maior operador urbano de aeronaves de asas rotativas do mundo, foram verificados uma interferência na qualidade das condições ambientais e consequente equilíbrio na vida do ser humano e esse é o cerne da questão mais uma vez que fundamenta a preocupação com relação a uma possível privatização do Aeroporto Santos Dumont. Transformar esse equipamento urbano em um aeroporto internacional teria como resultado um aumento no volume de tráfego onde seria incalculável os danos à natureza no entorno do aeroporto. Aumento das pistas dos terminais de passageiros para atender a demanda significa mexer também no escoamento desses passageiros e bagagem para os diversos destinos dentro da cidade e estado do Rio de Janeiro. De uma maneira geral, nunca se investiu nesse quesito, uma vez que  esse escoamento não é de responsabilidade do operador aeroportuário e sim de Prefeituras e Governos estaduais que significa : Até o meio fio do aeroporto a responsabilidade é do operador aeroportuário e do meio fio para fora é do Estado. Não conhecemos a multimodalidade nem a intermodalidade de transportes na cidade do Rio de Janeiro, que seria a troca imediata e sistêmica do modal aéreo para o modal ferroviário, rodoviário ou hidroviário que tenham a capacidade de proporcionar continuidade e celeridade ao fluxo de passageiros gerados por um aumento de demanda de voos. No caso do Santos Dumont um aumento de fluxo significa modificar completamente, as vias de acesso ao centro da cidade, zona sul, zona norte, zona oeste, além de outras regiões  com  diversas opções de transporte. Outra questão que chama a atenção é a existência de um aeroporto com infraestrutura suficiente e adequada para o processamento de passageiros e carga, faltando apenas a decisão política e econômica de se criar um escoamento adequado de passageiros e carga  para a cidade ou para fora dela. A violência do Rio de Janeiro, a falta de opções de transporte público de qualidade prejudica e muito a operação do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro (Galeão) que está apenas entre 18 e 20  quilômetros com as alternativas disponíveis hoje para ligação entre os dois aeroportos. Alternativas essas, não se levando em conta os horários de picos de movimento ou problemas em suas vias de acesso. Um modal ferroviário direto seguro e blindado a violência urbana é sem dúvida nenhuma a melhor alternativa para a discussão ora apresentada com uma possível privatização e transformação do Aeroporto Santos Dumont num aeroporto internacional. Não sou contra a privatização, muito pelo contrário, mas é privatizar o aeroporto para que se seja mais eficiente no atendimento aeroportuário da cidade, não esquecendo de levar em conta a qualidade de vida para a população do entorno do Aeroporto Santos Dumont e do Rio de Janeiro. Não entendo como vocacional para o aeroporto Santos Dumont essa expansão e aumento significativo de tráfego transformando-o em um aeroporto internacional.

Marcus Silva Reis

Marcus.prof@gmail.com

T.2198743-8264

Sobre o autor:

Pós-graduado em docência do ensino superior, pós-graduado em ciências aeronáuticas, pós-graduado em segurança da aviação civil, Bacharel em ciências Econômicas. Piloto comercial de aeronaves de asas fixas desempenhou funções de Piloto de aeronaves, instrutor, professor e coordenador de curso superior na formação de pilotos e gestores de aviação civil. Atualmente desempenha a função de perito em aviação em demandas judiciais!

 

 

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