Por Marcuss Silva Reis – Economista e especialista em aviação civil
Quando se discute a expansão da malha aérea brasileira, seja com empresas nacionais ou estrangeiras (no caso da cabotagem), uma pergunta precisa ser feita com seriedade: temos infraestrutura de pátio nos aeroportos para suportar um aumento significativo no volume de aeronaves?
A resposta, com base em dados e análises técnicas, é não. A maioria dos aeroportos brasileiros, mesmo após concessões e reformas em terminais de passageiros, segue com limitações graves em áreas operacionais, especialmente nos pátios de aeronaves.
✈️ O que é pátio de aeronaves e por que ele é crucial?
O pátio de aeronaves é a área do aeroporto onde as aeronaves estacionam para embarque, desembarque, reabastecimento e manutenção leve. Diferente do terminal de passageiros, o pátio tem função diretamente operacional — e sua capacidade é um dos principais limitadores da eficiência aérea.
Se o pátio está cheio, a aeronave precisa esperar para estacionar. Isso gera atrasos, aumenta o consumo de combustível e reduz a competitividade das companhias aéreas.
🚧 A realidade dos aeroportos brasileiros
De acordo com relatórios da ANAC e da Infraero, muitos aeroportos operam no limite da capacidade de pátio nos horários de pico. Mesmo em grandes hubs como Guarulhos (GRU), Brasília (BSB) e Confins (CNF), é comum ver aeronaves aguardando posição livre ou sendo direcionadas para posições remotas com ônibus.
O problema é ainda mais grave nos aeroportos regionais, que muitas vezes contam com apenas uma ou duas posições de estacionamento — insuficientes para atrair novas rotas, muito menos companhias estrangeiras.
Segundo o Plano de Aviação Regional do antigo SAC (atual Ministério de Portos e Aeroportos), mais de 90% dos aeroportos fora das capitais não possuem capacidade de pátio suficiente para operações simultâneas de jatos comerciais.
🌍 E a cabotagem? Temos estrutura para isso?
A discussão sobre cabotagem aérea no Brasil, ou seja, a permissão para empresas estrangeiras realizarem voos domésticos entre cidades brasileiras, esbarra diretamente nesse gargalo. Antes de discutir política de mercado, é preciso olhar para o chão do aeroporto: não temos onde estacionar mais aviões, especialmente nos horários de pico.
Permitir a entrada de novas empresas — com frotas maiores e planos ambiciosos — sem resolver a limitação física dos pátios seria como vender mais passagens sem garantir que o avião tenha onde pousar e parar.
🔍 Impactos da falta de infraestrutura de pátio
❌ Atrasos e cancelamentos
Com pátios lotados, aeronaves aguardam em solo, aumentam o tempo de voo e atrasam conexões.
❌ Maior custo operacional
Empresas gastam mais com combustível e manutenção ao operar em situações de espera ou com logística comprometida.
❌ Risco para a segurança
Com áreas apertadas, aumenta o risco de colisões no solo e acidentes operacionais.
❌ Desestímulo à aviação regional
Sem estrutura nos aeroportos menores, novas rotas deixam de ser viáveis economicamente.
📊 Um dado histórico que escancara a realidade
Para se ter ideia do desequilíbrio histórico, a Varig — maior companhia aérea da história do Brasil — nunca conseguiu manter mais do que 20% dos voos internacionais em relação às empresas estrangeiras que operavam no Brasil.
Ou seja, mesmo no auge da aviação nacional, com uma empresa robusta, o país não conseguiu reciprocidade real. Imagine agora, com empresas mais enxutas, enfrentando limitações de pátio, combustível caro e mercado concentrado.
✅ O que precisa ser feito?
Antes de discutir cabotagem, precisamos investir e resolver os gargalos de infraestrutura. Algumas ações urgentes incluem:
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Ampliação dos pátios de aeronaves nos aeroportos regionais e hubs nacionais;
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Revisão da malha de horários para evitar saturação nos picos;
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Modernização de sistemas de movimentação em solo (APRON Management);
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Investimento público e privado na infraestrutura operacional, além dos terminais.
📚 Fontes de Consulta e Leitura Recomendada
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ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil
https://www.gov.br/anac -
Infraero – Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária
https://www.infraero.gov.br -
Ministério de Portos e Aeroportos
https://www.gov.br/portos-e-aeroportos -
DECEA – Departamento de Controle do Espaço Aéreo
https://www.decea.mil.br -
IATA – International Air Transport Association
https://www.iata.org -
TCU – Tribunal de Contas da União
https://portal.tcu.gov.br
✈️ Conclusão
O Brasil precisa voar mais alto, sim — mas com os pés no chão. Antes de discutir liberalização do mercado aéreo com promessas de “reciprocidade” e “concorrência saudável”, é preciso garantir que temos infraestrutura de pátio e pista para sustentar esse crescimento. Caso contrário, corremos o risco de colapsar o sistema e entregar nossa malha aérea sem retorno garantido.
Reciprocidade sem estrutura é retórica — e não política séria de aviação.
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